(...) Uma mulher não perdoa uma única coisa
no homem:
que ele não ame com coragem!
Pode ter os
maiores defeitos, atrasar-se para os compromissos, jogar futebol no sábado com
os amigos, soltar gargalhada de hiena, pentear-se com franjinha, ter pêlos nas
costas e no pescoço, usar palito de dente, trocar os talheres de um momento
para outro. Qualquer coisa é admitida, menos que não ame com coragem.
Amar com coragem não é viver com coragem. É bem mais
do que estar aí. Amar com coragem não é questão de estilo, de gosto, de
opinião. Não se adquire com a família, surge de uma decisão solitária.
Amar com coragem é caráter. Vem de uma obstinação que
supera a lealdade. Vem de uma incompetência de ser diferente. Amar para valer,
para dar torcicolo.
Não encontrar uma desculpa ou um pretexto para se
adaptar, para fugir, para não nadar até o começo do corpo. Não usar atenuantes
como “estou confuso”. Não se diminuir com a insegurança, mas se aumentar com a
insegurança. Não se retrair perante os pais. Não desmarcar um amor pela
amizade. Não esquecer de comentar pelo receio de ser incompreendido. Não
esquecer de repetir pela ânsia da claridade.
Amar como se não houvesse tempo de amar. Amar
esquisito. Amar atrasado, com a respiração antecipando o beijo. Amar com fúria,
com o recalque de não ter sido assim antes. Amar decidido, obcecado, como quem
troca de identidade e parte a um longo exílio.
Amar como quem volta de um longo exílio.(…)
Amar com coragem, só isso.
Amar com coragem, só isso.
Fabrício Carpinejar
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