quinta-feira, 17 de novembro de 2011


Enquanto escrever e falar vou ter que fingir que alguém 
está segurando minha mão.
Pelo menos no começo, só no começo. 
Logo que puder dispensá-la irei sozinha. 

Por enquanto preciso segurar esta tua mão - 
mesmo que não consiga inventar 
teu rosto, teus olhos e tua boca. 
E embora decepada, esta mão não me assusta. 

A invenção dela vem de tal idéia de amor como se a mão estivesse ligada 
a um corpo que, se não vejo é por incapacidade de amar mais.

Não estou a altura de imaginar uma pessoa inteira 
porque não sou uma pessoa inteira. 
E como imaginar um rosto se não sei de que expressão de rosto preciso? 

Logo que puder dispensar tua mão quente, irei sozinha e com horror. 
O horror será a minha responsabilidade até que se complete a metamorfose.
E que o horror se transforme em claridade. 

Não a claridade que nasce de um desejo de beleza e moralismo, 
como antes mesmo sem saber eu me propunha;
mas a claridade natural do que existe, 
e é essa claridade natural o que me aterroriza.

É que a verdade nunca me fez sentido.
A verdade não me faz sentido! 
É por isso que eu a temia e a temo. 

Desamparada, eu te entrego tudo - 
para que faças disso uma coisa alegre. 

Por te falar eu te assustarei e te perderei?
Mas se eu não falar eu me perderei, e por me perder eu te perderia...

(Lispector falando por mim)
 

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