Enquanto escrever e
falar vou ter que fingir que alguém
está segurando minha mão.
Pelo
menos no começo, só no começo.
Logo que puder dispensá-la irei sozinha.
Por enquanto preciso segurar esta tua mão -
mesmo que não consiga
inventar
teu rosto, teus olhos e tua boca.
E embora decepada, esta
mão não me assusta.
A invenção dela vem de tal idéia de amor como se a
mão estivesse ligada
a um corpo que, se não vejo é por incapacidade de amar mais.
a um corpo que, se não vejo é por incapacidade de amar mais.
Não estou a altura de imaginar uma pessoa inteira
porque não
sou uma pessoa inteira.
E como imaginar um rosto se não sei de que
expressão de rosto preciso?
Logo que puder dispensar tua mão quente,
irei sozinha e com horror.
O horror será a minha responsabilidade até
que se complete a metamorfose.
E que o horror se transforme em claridade.
Não a claridade que nasce de um desejo de beleza e moralismo,
como
antes mesmo sem saber eu me propunha;
mas a claridade natural do que
existe,
e é essa claridade natural o que me aterroriza.
É que a verdade nunca me fez sentido.
A verdade não me faz sentido!
É
por isso que eu a temia e a temo.
Desamparada, eu te entrego tudo -
para
que faças disso uma coisa alegre.
Por te falar eu te assustarei e te
perderei?
Mas se eu não falar eu me perderei, e por me perder eu te
perderia...
(Lispector falando por mim)
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