Minhas palavras, entenda, não são carícias.
Beijos de leve de um lado do rosto.
O enrolar dos cabelos nas pontas dos dedos.
Abraços sobre o banco da praça em tarde de outono.
Minhas palavras, peço que entenda, são bofetadas.
Socos. Cuspes. Levam veneno no lugar do sangue.
Canivetes nos bolsos ao invés de lenços.
Engolem comprimidos de madrugada.
Vomitam pelo chão do banheiro.
Minhas palavras são loucas de camisola
a vagar insone pelas ruas.
Velhas despenteadas. Meninas com as tranças desfeitas.
Bonecas sem cabeça. Mulheres carregando ramalhetes mortos.
Sobrevivem como insetos no escuro.
Se reproduzem como mofo nos fungos.
Começam com o céu azul e terminam em tempestades cinzentas.
Minhas palavras, pela última vez entenda, tem as pontas afiadas. O desejo do corte. Não escrevo pra fazer afagos.
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